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O que a mitologia tem a nos dizer sobre os Sonhos?

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Como representações da psique humana, a mitologia não poderia deixar de nos trazer representações mitológicas associadas aos sonhos. Podemos começar citanto Hipnos, deus do sono, que deu origem ao famoso termo hipnose.




Na mitologia grega, Hipnos vivia num palácio construído dentro de uma grande caverna, onde o sol nunca alcançava, porque ninguém tinha um galo que acordasse o mundo, nem gansos ou cães, de modo que Hipnos viveu sempre em tranquilidade, paz e silêncio.

Do outro lado deste lugar peculiar passava Lete, o rio do esquecimento, e nas margens, cresciam plantas que junto ao murmúrio das águas límpidas do rio, ajudavam os homens a dormir.

No meio do palácio existia uma bela cama, cercada por cortinas pretas onde Hipnos descansava, sendo que Morfeu, seu filho, tomava o cuidado de que ninguém o acordasse.

Costuma ser visto trajando peças douradas, em oposição a seu irmão gêmeo que normalmente usava tons prateados. Também pode ser retratado como um jovem nu dotado de asas, tocando flauta.

Às vezes é mostrado como adormecido em um leito de penas com cortinas negras à volta. Seus atributos incluem um chifre contendo ópio, um talo de papoula, um ramo gotejando água do rio Lete (“Esquecimento”) e uma tocha invertida.

Hipnos tem nove irmãos, entre os quais o mais importante é seu gêmeo Tânato, (Θάνατος) a personificação da morte.

Ele e sua esposa tiveram os oneiros, seus filhos. Hipnos é aquele que leva a pessoa ao sono e lá encontra seus filhos, responsável por distribuir os sonhos: Morfeu, Ícelo, Fantaso e Fantasia.

Morfeu – deus dos sonhos bons ou abstratos;
Ícelo – deus dos pesadelos;
Fântaso – criador dos objetos inanimados monstros, quimeras e devaneios que aparecem nos sonhos e ficam na memória;
Fantasia – única filha e gêmea de Fântaso, deusa do delírio e da fantasia.

O mais conhecido é Morfeu (Μορφεύς). Deus do sonho, é um ser alado o que o permite vagar pelos lugares mais distantes. Durante o sono, ele assumia a forma humana da pessoa amada, assim, uma noite bem dormida era explicada pela presença desse deus nos sonhos.

O nome deriva de μορφή, “forma”, próprio das diversas formas que ele pode assumir durante o sonho.

Por causa desse mito que a expressão “caiu nos braços de Morfeu” significa que a pessoa tece uma noite bem dormida. Essa expressão deu origem ao nome morfina usado nos analgésicos.

Não é à toa que Morfeu, no filme Matrix, é aquele que traz a esperança e consegue trazer consciência àqueles que estão “dormindo”. No filme, Morfeu aparece como o caminho.

Ele oferece “somente a verdade” e fica a encargo de cada um escolher entre as duas pílulas, uma para acordar e outra para permanecer “dormindo”, ou vivendo no mundo imaginário.

Análise de Sonhos e a Mitologia





Os sonhos são peças chave nos estudos e no trabalho clínico de Jung. Em toda sua trajetória, ele analisou milhares de sonhos e pôde constatar que aspectos mitológicos estão muito presentes nos sonhos.

As imagens míticas representam para a consciência humana os princípios fundamentais da forma e de significado que vêm sendo expressos através dos tempos nos rituais, artes, lendas, contos.

Representam as vias pelas quais o inconsciente coletivo da humanidade, em suas diferentes manifestações culturais responde aos grandes temas da vida.

Essas imagens carregadas de conteúdo arquetípico descrevem e orientam, proporcionam significados, podendo ser potentes auxiliadores na elaboração da dinâmica existencial e pessoal de cada um.

Segundo Jung: “Os arquétipos intervêm na formação dos conteúdos conscientes, regulando-os, modificando-os” (O.C. 8)

Quando os motivos mitológicos aparecem nos sonhos, trazem uma grande força, com um tom peculiar, uma “numinosidade” podendo criar um senso de reverência, pois são imagens de padrões fundamentais básicos da totalidade da vida, mais profundos do que a expressão tangível da vida do sonhador, o que pode gerar uma sensação de grandiosidade e conexão com algo grandioso.

“Embora todo sonho contenha alegorias e símbolos que exigem atenção e compreensão, os elementos arquetípicos nos sonhos exigem do terapeuta compreensão sensível dos inúmeros motivos do acervo mitológico da humanidade.” (Whitmont, 1995)

Está claro que ao pensarmos em sonhos, estamos tocando questões pessoais, dimensões espirituais e coletivas por meio das representações arquetípicas. É um universo simbólico fascinante a ser desvelado.

Desejo que essa próxima noite você possa receber os sonhos e mergulhar nesse universo com um olhar mais amplo, acolhido nos “braços de Morfeu”.


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