Visões, Sonhos e Meditações, Caminhos ao Inconsciente.
Jung viveu um período de intensas transformações em sua vida, marcado por visões e delírios, um processo de elaboração simbólica vivido após um pé quebrado e um enfarte cardíaco. Essa passagem foi contada no capítulo Visões do livro Memórias, Sonhos e Reflexões.
Foram três semanas de imersão em imagens surgidas espontaneamente, enquanto ele estava em seu leito enfermo recebendo medicamentos. Ele vivia uma dicotomia entre sentir-se deprimido e fraco durante o dia e em estado de êxtase, beatitude e felicidade durante a noite.
Visões e Sonhos
Os sonhos são expressões espontâneas de processos inconscientes que, dentre outras funções, incentivam o aprendizado no processo individual de desenvolvimento.
A vivência do símbolo pelas imagens oníricas mobiliza energia criando um fluxo de acesso a conteúdos inconscientes que desencadeiam uma reorganização psíquica.
Dizemos que se está sonhando quando a consciência adormece e o estado de vigília é ultrapassado.
Sabemos hoje, pelos estudos da neurociência, que esse estado acontece em frequências de ondas cerebrais mais baixas do que quando estamos acordados. No entanto, a faixa de frequência que acontece o sonho é bem próxima ao de sono leve, ou seja, não sonhamos em sono profundo. Logo, com um treinamento meditativo onde se consegue diminuir as frequências cerebrais e ainda permanecer acordado é possível chegar a esses estados conscientemente.
Sabe-se também que o estado induzido por drogas analgésicas proporciona relaxamento e diminui a frequência das ondas cerebrais. É interessante notar que as visões ocorriam sempre a noite, sempre depois de um período de sono: “De tarde, adormecia e o sono durava até perto de meia-noite. Então acordava e ficava desperto, talvez uma hora, mas num estado muito particular. Ficava como que num êxtase ou numa grande beatitude. Sentia-me pairando no espaço como que abrigado no meio do universo, num vazio imenso, embora pleno do maior sentimento de felicidade possível. Era a beatitude eterna; não se pode descrevê-la, é extraordinariamente maravilhosa, eu pensava.”.
É bem possível que as ondas cerebrais de Jung durante a vivência das visões estivessem em frequências mais baixas do que normalmente em estado de vigília, acordado. Essas ondas são predominantes no estado meditativo e no estado de sonho. Logo, é como se ele se sentisse “sonhando acordado” ou estado meditativo intenso. Isso é muito notório quando ele conta, no mesmo capítulo, de um sonho com a esposa em que a clareza foi tal, que ele o vivenciou como se fosse uma visão: “Ela me apareceu em sonho como se fosse uma visão.”.
Seja por Visões, Sonhos ou Meditações, é notória a relação da diminuição da frequência cerebral como caminho para o inconsciente, potenciais mobilizadores de energia psíquica que podem levar a uma comunicação íntima com o Self e trazer mudanças profundas.
Para Jung, essa fase representou um divisor de águas em sua vida sendo que logo em seguida nasceram suas mais importantes obras e compreensões existenciais:
“Depois dessa doença começou um período de grande produtividade. Muitas de minhas obras principais surgiram […]”
“Foi só depois da minha doença que compreendi o quanto é importante aceitar o destino. Porque assim há um eu que não recua quando surge o incompreensível. Um eu que resiste, que suporta a verdade e que está à altura do mundo e do destino. Então uma derrota pode ser ao mesmo tempo uma vitória. Nada se perturba, nem dentro, nem fora, porque nossa própria continuidade resistiu à torrente da vida e do tempo. Mas isso só acontece se não impedirmos que o destino manifeste suas intenções.”
A expressão do Self
Independentemente da via, nosso Self busca se expressar. Seja por Visões, Sonhos ou Meditações, a via para o inconsciente deve ser acolhida e incentivada. Porque na prática, ela é inevitável.
Todos buscamos vir a ser e expressar a totalidade. Deixemos, portanto, que o mais íntimo de nós se mostre para que, desta forma, “o destino manifeste suas intenções” e o Self possa reluzir em nossa existência.
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Gratidão!! Estou ha quase seis meses envolvida com os cuidados com meu pé esquerdo fraturado…o texto me ajudou a compreender melhor essa vivencia! Amor e Luz!! Mônica”Zingara “
Que Bom Mônica!
Realmente, algo físico espelha um momento interno.
abraço
Excelente texto! Vem de encontro a tudo que tenho pensado, estudado, vivenciado pessoalmente e observado na clínica. Gratidão, pelo texto e parabéns!
Estou gostando imenso de ler e aprofundar este conhecimento. Grata ficando.
[…] “Minha vida é a história de um inconsciente que se realizou.” (Carl Gustav Jung. Memórias Sonhos e Reflexões, p. […]
[…] sonhos sempre fizeram parte do imaginário do ser humano; para Kast (2010) “como os sonhos são compreendidos e o confronto com eles revela muito sobre a cultura dominante em questão e […]
[…] própria jornada que, aqueles que dão voz e aceitam “o mergulho” integrando aspectos do seu inconsciente e o manifestam na vida de modo criativo, tem uma existência mais plena, mais […]