Um homem perde sua mulher, e para decidir sobre um novo casamento, tira a bota furada, chama a sua filha e diz para pendura-la e encher com água, se vazasse ele não se casaria. A menina fez o que o pai pediu, e a água não vazou. Ele se casa com uma viúva que tinha uma filha. A enteada era bonita e amada por todos, a sua filha era feia, sentiu inveja e passou a deixa-la para trás em tudo, elaborando como atormentá-la cada vez mais.
Certa vez no inverno, ela costurou um vestido de papel para a menina, deu um cesto e a mandou para a floresta colher muitos morangos, voltar com a cesta cheia. A menina chorou alegando que não teria morangos no inverno, e como poderia usar esse vestido de papel.
A madrasta a impede de falar mais, e manda já para a floresta. Com seu ódio, o desejo era que a menina congelasse e jamais retornasse. A menina obediente, coloca o vestido e vai para a neve. Encontra uma casinha com três homenzinhos, e muito educada os cumprimenta, eles perguntam o que fazia na floresta com aquele vestido, ela fala da sua missão, dizem então para ela ir atrás da casa, afastar a neve que encontrará muitos morangos. Apanha os morangos, eles querem recompensar sua bondade e beleza. O primeiro dá mais beleza ainda. O outro, que caia moedas de ouro de sua boca toda vez que ela falava. O terceiro, que apareça um rei e se casem. Ela recebe os presentes, ao agradecer, moedas caem de sua boca. Volta para casa e a madrasta fica surpresa ao ver os morangos e as moedas caindo. Não demorou para que um rei surgisse e a tornasse por sua esposa.
A madrasta quis que a sua filha também tivesse a mesma sorte. Costura um traje de pele e manda a filha com os três homenzinhos. Eles viram que seu coração era mau e lhe deram coisas ruins. O primeiro que ela congelasse em seu traje de pele, o segundo que ficasse mais feia a cada dia e o terceiro que morresse de forma horrível. Tremendo de frio ela conta para a mãe, que passa a pensar em vingança. Procura a enteada, agora rainha, se mostra amiga e amável, foi bem recebida e ganha uma casa própria. Pouco tempo depois a rainha da à luz um príncipe e quando estava sozinha à noite, doente e fraca, a malvada mulher e sua filha tiram-na da cama e atiram-na no rio. No outro dia contam ao rei a respeito da morte dela.
A noite, o ajudante de cozinha vê uma pata nadando na cozinha perguntando sobre o que faziam as visitas dela. Ele responde que dormiam sono profundo, e o que fazia o filhinho dela. Dormia embaladinho, respondeu. A pata vira rainha, dá de mamar, cuida da criança e volta a forma de pata. Volta nas outra noites e diz ao ajudante para procurar o rei, usar a espada para quebrar o feitiço, girar três vezes sobre ela na soleira da porta. Ao fazer isso a rainha surge novamente diante dele, a falsidade das duas se revelaram, foram levadas à floresta para serem devoradas pelos animais selvagens.
ANÁLISE AO CONTO
Essa psique ou mente masculina, perde um aspecto feminino. Esse conteúdo vai para o inconsciente. Pode ser, por exemplo, a bondade. Algum conflito o leva a ter comportamento mais impulsivo, e esse aspecto da bondade deixa de ser expresso nas suas atitudes. Ele está indeciso sobre seu casamento, e tira a sua responsabilidade quando quem vai fazer a escolha é a sua bota vazando ou não a água. A indecisão é dele, a escolha deveria ser também, se fosse uma psique mais segura. Decide a sua vida como se fosse um jogo, para não assumir a responsabilidade. Vai para uma decisão mágica, isenta de razão, de reflexão sobre determinada situação.
Se esse aspecto foi para o inconsciente, não está sendo usado, deve ter algum motivo. Casar novamente, significa sair do comodismo, viver coisas novas. Seu comodismo deve ser grande, pois a bota furada não foi consertada, percorrendo os mesmos caminhos, fazendo as mesmas coisas.
A filha, que é o feminino vai movimentar a emoção, símbolo da água na bota. Se passar a emoção, as experiências que ele vai enfrentar, ficando solteiro, serão mais difíceis de serem expressas, coisa que no casamento a emoção, diante da convivência, pode ser expressa de forma mais intensa. Como a água não vazou, ele se casa, precisa de uma nova experiência.
Casa com uma viúva, parece uma psique que deixa muitos aspectos femininos de lado, pois se casa com uma mulher que também está sem o masculino, não enfrenta os conteúdos dele. Todos nós temos conteúdos femininos e masculinos, esse casamento fala da dificuldade de ambos lidarem com seus opostos.
Dois aspectos do feminino estarão unidos na experiência; o belo na enteada e o feio na filha da madrasta. A inveja, a destruição fazem parte do arquétipo feminino. Esse aspecto é mais primitivo nela, e quer destruir o mais evoluído ao escolher eliminar a filha dele. Vai atacar o que é bom, o complexo de inferioridade toma a consciência, destruir o oposto para ela é a melhor forma de lidar com o seu complexo, ele é tão poderoso que precisa mudar a realidade antes de saber lidar melhor com ela na sua consciência.
O vestido de papel mostra como ela lida com a bela, a fim de lhe tirar ainda mais o valor, e se conseguir eliminar a beleza dela, compreende que ficou resolvido seu próprio complexo. Seu arquétipo de madrasta, exerce um poder maior sobre a enteada, que não reage às suas exigências.
>>VOCÊ SABE O QUE SÃO ARQUÉTIPOS? NÃO? CLIQUE AQUI E INTRODUZA-SE NA PSICOLOGIA ANALÍTICA<<
Lá fora é tão frio, ou seja, a filha não consegue se manifestar para o mundo, até a sua respiração fica congelada, tira a vida. Não pode falar, se expressar, vai para a floresta, símbolo do inconsciente. Encontra uma casa com três homenzinhos, três conteúdos do inconsciente, forças que irão agir, dependendo de como você conseguir acessar. No inconsciente sempre achamos uma saída para nossas angústias, conflitos, problemas, dificuldades a fim de sairmos dessa experiência e passarmos para a próxima. Nesse caso podemos pensar na trindade espiritual, que auxilia e ilumina, o SELF, a totalidade da psique que transcende a matéria.
Ele quer que o aspecto bom e belo cresça, por isso está dando mais beleza, mais valor ao se expressar de forma nobre pela fala e o casamento com o rei. O SELF está dando a oportunidade de ter mais conteúdos nobres e restabelecer a justiça com ela. O morango já estava lá, para que ela pudesse concluir sua tarefa, responder àquela que deseja sua destruição com o amor em seu coração, pois elaatende o desejo da madrasta, apesar de não morrer.
Se casa com o rei, encontra um masculino que a valoriza levando a uma nova experiência, volta para o mundo liberando novos talentos e potencialidades através de um filho.
A madrasta queria que sua filha tivesse a mesma sorte, e os três homenzinhos potencializaram seu desejo destrutivo, o primeiro que ela congelasse, o segundo que ficasse mais feia, e o terceiro que morresse de uma morte horrível. São aspectos que precisam ser realmente congelados, destruídos, para que a beleza possa surgir.
A vingança dela ignorou a mensagem do SELF, pois ela poderia aprender com sua enteada a doçura, bondade e a beleza sem destruí-la.
Deu a luz a um príncipe, ela fraca e doente, ingênua, não percebe maldade da madrasta, esta ganha força para tentar destruir novamente. Falam ao rei que a rainha tinha morrido, porém ela se transforma em uma pata. Um aspecto do instinto da rainha é acionado para que ela possa lidar com tanta maldade.
A maldição da pata foi revertida pela espada do masculino, ou seja, o masculino entra com as regras para colocar ordem na luta dos opostos femininos, ela foi auxiliada por ele e volta a ser rainha. A madrasta e sua filha vão para a floresta, inconsciente, para serem devoradas pelos animais, o que se devora, se transforma, os complexos deixam o ego, e novamente só serão acionados por novas experiências, que os tragam à consciência. Na luta dos opostos só reconhecemos o feio porque vejo o belo, a luz porque vejo a sombra. Sabemos que reconhecer a nossa dualidade, integramos o lado desconhecido , sombrio de nossa existência, e encontramos o equilíbrio para a vida.