A geração atual está imersa em um universo de tecnologia fantástico. O advento das mídias sociais pode ser um fator extremamente positivo, na medida em que conecta pessoas distantes em um clique. Ao mesmo tempo, ela pode criar a ilusão da perfeição, ao exibir sempre o belo pode desencadear a ideia que não há nada feio, errado ou que precise melhorar. A dicotomia com a “sombra” de todos nós e o mito da perfeição que Narciso representa.
Como pensar em “sombra” quando se vive em uma sociedade movida por likes? Essa pergunta surgiu lendo o jornal em um domingo desses no qual uma matéria sobre narcisismo captou minha atenção. A matéria mencionava o culto narcísico conduzido pelas mídias sociais, o apelo dos jovens e tudo o que se faz em nome da selfie perfeita. Afinal, como pensar em uma “parte obscura, não vivida e reprimida do ego”, como Von Franz chama atenção ao falar sobre a sombra – se estamos cercados de perfeição?
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Há muitas maneiras de falar sobre a sombra, mas valendo do que Jung chamava nossa atenção para os psicólogos não se “apegarem aos conceitos da psicologia de forma literal”; quero refletir na temática da sombra versus o narcisismo atual, sem teorizar ao extremo.
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O culto às selfies ganhou dimensão que deixariam Narciso [1]impressionado. As imagens são retocadas, clicadas várias vezes, até atingirem o status de “perfeitas”. Nada pode aparecer fora do lugar. Aonde está a sombra? Essa parte negativa da personalidade, esse lado que não é tão bonito, tão bacana, tão perfeito? A fera que existe em toda bela, o ogro que há em todo príncipe…
Essa busca pela imagem ideal tem negado a sombra para bem longe do ego. E, engana-se que tal fato se relaciona somente à beleza estética; há uma geração que acredita ser bom demais para começar no trabalho “por baixo”; sabe muito, para admitir que errou; é ótimo parceiro, para reconhecer que contribuiu para o fracasso de um relacionamento. E vemos uma geração dona da verdade, fazendo ares de quem domina todos os assuntos. A culpa está sempre no outro, o erro é sempre dos outros que passam a incorporar a sombra, os defeitos, os fracassos. Renegando a sombra para bem longe do ego (de si mesmo), perde-se a oportunidade de enxergá-la e assumi-la em si.
Ao reconhecer a sombra – qualidades e defeitos – são partes do mesmo ego, portanto há possibilidade de crescer, amadurecer. Como disse o apostolo Paulo: “não pratico o bem que almejo, mas o mal que não quero realizar, esse eu sigo praticando” (Bíblia).
Quem acredita que sua imagem é perfeita, mergulha em si e se perde. A “sombra” humaniza!
Só é capaz de se aventurar em um processo terapêutico aquele que se reconhece com defeitos, com falhas; aquele ego que não é perfeito tem espaço para melhorar, para se descobrir.
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Referências
VON FRANZ, M.L. A sombra e o mal nos contos de fadas. São Paulo: Ed. Paulinas,1985
BÍBLIA KING JAMES ATUALIZADA. Romanos 7:19. São Paulo: Ed.Abba Press (Aplicativo)
[1] Narciso, na mitologia grega, é um jovem que ao se contemplar nas águas de uma fonte, apaixona-se pela sua imagem, até se consumir. Na psiquiatria, o termo Narcisismo é usado para dizer das pessoas que tem interesse exagerado pelo corpo.
[…] não existe desejo de poder; e onde o poder tem precedência, aí falta o amor. Um é a sombra do outro.” (Carl Gustav Jung. Psicologia do Inconsciente, p. […]