“O passado já nos foi dado e o guardamos.
Temos em mãos o presente.
E amanhã, talvez, será o nosso futuro presente”.
Isabella M. Condé
Estamos prestes a nos depararmos com o final do ano e junto com essa chegada, também nos afrontamos com nossas constantes reflexões acerca do que fomos ou não capazes de realizar durante o ano que transcorreu.
Podemos bem fazer uma retrospectiva sobre os melhores e piores momentos, frutos de alegrias e sofrimentos, saúde e doença, progressos e regressos, dentre outros que fomos capazes de vivenciar. Sobretudo, ao fazer tal processo reflexivo, notamos com clareza os contrastes entre os encontros e desencontros que nos achegaram.
No entanto, é preciso ir além para evoluirmos em nossa incrível capacidade de nos tornarmos cada vez mais humanos: o que pudemos fazer com nossas pedras encontradas pelo meio do caminho?
É verdade que nem toda caminhada é fácil, pois se assim o for, deve nos vir o questionamento de que algo tem de errado por não nos provocar a criação de um profundo sentimento pelo que foi proposto. Necessário é, portanto, que lutemos firmemente por nossos propósitos, sem que projetemos sob a sombra dos outros as nossas perdas.
Não se trata apenas de julgar o quão difícil é, mas de saber como lidar com essa dificuldade e descobrir que é no meio de nossos tormentos que encontramos a possível saída.
“Onde está o maior dos meus problemas, ali está também a maior de todas as chances, ali está o meu tesouro. É ali que alguma coisa poderá ganhar vida e desabrochar.” (Anselm Grün)
Falar de nossas dificuldades é também ativar, de modo inconsciente, nossos projetos arquetípicos sombrios cuja personalidade humana sempre busca por seu distanciamento, ou melhor, a luta por suas constantes fugas e projeções indevidas nas pessoas ao redor.
Estas que nos retornam ao modelo humano mais primitivo, evitando o afrontamento e indicando que o melhor caminho é mesmo jogar o erro para os outros. Grande equívoco! Simplesmente porque não suportamos, é mais fácil lavarmos as mãos? Não! É preciso enfrentar!
C. G. Jung já nos orientava que “ninguém se torna iluminado por imaginar figuras de luz, mas exatamente por tomar consciência de sua própria escuridão”.
É assim que a vida vai tomando seu corpo e trocando sua ordem primeva pela lapidação de suas potencialidades. É aí que a personalidade se torna dinâmica e frutuosa, capaz de compreender seus limites e suas capacidades.
Faz-se preciso, no entanto, que separemos e agrupemos cada qual em seu respectivo tempo. Em outras palavras, é de suma importância que compreendamos cada parte em separado, para só então juntarmos tudo novamente com a clareza consciente do que seja cada pedaço agrupado, o que se tem ali de especial e o que se completa com essa junção.
Ainda, recordo da figura oriental proposta pelas reflexões de Jung: o Yin e Yang. Figura completa composta por dois pedaços. Um claro e outro escuro. Cada qual com sua beleza. Ambos com a firmeza de estarem juntos e formularem a única figura. Nem um, tampouco o outro. Os dois e seu inédito equilíbrio!
Assim, temos o humano: não só seu estonteante apreço pelos acertos, mas também suas constantes aprendizagem sobre os erros. Há imensa possibilidade de que, embora sejam consideradas as mais escuras, essas partes têm a capacidade de lapidar aquilo que já era claro e, até mesmo, formar uma nova iluminação. Não esqueçamos também que, longe de resolver o problema, as projeções da sombra agem apenas exacerbando a qualidade incômoda do lado obscuro de nossa alma, injetando uma espécie de veneno nas relações interpessoais por meio de uma denegação moralista e de percepções distorcidas.
Verdadeiramente precisamos ir ao encontro de nossas sombras, enfrentá-las e delas sermos capazes de arrancar uma lição. Logo, vamos, progressivamente, construindo nosso lado iluminado, a saber que tudo se vai acomodando de modo inconsciente, ou seja, na maior parte das vezes, sem nossos controles conscientes e/ou desejados.
Cá estamos a iniciar um novo ano e, junto dele, a descoberta dos novos sonhos e realizações. Uma breve frase nos diz muito sobre essa nova realidade que vem chegando: “é impossível começar um novo ano, praticando os velhos erros”.
Desse modo, é imprescindível criar mecanismos de defesas que agem de acordo com a potencialidade arquetípica das sombras.
Não se trata de uma fórmula ideal para todos os indivíduos usarem com a tomada do arquétipo sombrio. Além disso, Jung sempre nos advertiu a concretude singular dos aspectos humanos e suas posições diante de realidades coletivas. Faz-se preciso, no entanto, que formulemos algo de acordo com nossa própria demanda, com o pessoal.
Alguns passos podemos ter indicativos de como lidar com as sombras de modo abrangente, outros, porém, deve-se exclusiva participação no processo psicoterapêutico, elaborado através da relação paciente-terapeuta. Sobretudo, trata-se de grande esforço pessoal, uma vez que o analisando deve se colocar em humilde abdicação de sua superioridade sombria. Implica um ato de coragem.
Como passos para a criação de mecanismos abrangentes, podemos citar a extração de aspectos positivos. Como citado acima, todas as coisas possuem ambos os lados: negativo e positivo. Saibamos aproveitar as deixas positivas. Em nossas sombras podemos encontrar as ferramentas e os tesouros responsáveis pela formação de nossa Personalidade e,
consequentemente, pelo Processo de Individuação.
Sabemos que todo encontro com nosso lado primitivo – proveniente de nosso inconsciente coletivo – é conflituoso, no entanto, necessário para a lapidação da alma e fazer com que, ao olharmos para o nosso lado obscuro, tomemos consciência de nossos próprios erros e, mais que isso, aprendamos com eles.
O ano novo vem aí e com ele também se achegam as 365 novas oportunidades de criarmos esses mecanismos de aprendizagens, possibilitando-nos olhar a fundo para nossos complexos e promover nosso desenvolvimento.
Afinal, mais que desejar possuir a sorte, é tê-la em nossas mãos e saber como utilizá-la, buscando ser um ponto de luz na imensidão da noite.
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Bibliografia:
– Grinberg, Luiz Paulo, Jung: o homem criativo; São Paulo: FTD, 1997.
– Hopcke, Robert H., Guia para Obra Completa de C. G. Jung; Tradução de Edgar Orth e Reinaldo Orth. 3 ed. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.
– Jung, C. G., O.C. 10/2, Aspectos do drama contemporâneo – Petrópolis, RJ: Vozes.
– Jung, C. G., Sobre sentimentos e a sombra: sessões de perguntas de Winterthur; Tradução de Lorena Richter. 2 ed. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2015
É desinflando o ego que aproximamo-nos de uma individuação de busca e reinvenção rumo a uma plenitude de nosso Inconsciente Coletivo. Gratidão pelas razões descritas para instrumentaliza-me.
Verdadeiramente esse é o caminho, Eugênio! Obrigada pela leitura! Desejo-lhe una boa e feliz passagem para o Ano Novo!
Tenho que deixar o meu inconsciente falar e se expressar. Creio que sou altamente racional e auto controladora. Devo deixar as emoções virem à tona!
Olá, Tereza! Tenha uma excelente passagem de ano e lembre-se sempre que o melhor caminho é contar com a ajuda dos familiares, amigos e uma boa psicoterapia!
Muito verdadeiro o texto Isabela Maria Corrêa Condé, o importante é percebermos e aprendermos que certos erros são como experiências, na verdade aprendemos com ”eles”. Parafraseando você: ”Que façamos de nós mesmos o diferencial da nova fase que se inicia”.
Rosilane, desejo sucesso nessa nova fase lapidada pelos diferenciais que a vida nos proporciona!
Como estou começando não sei fazer comentários mais consistente. Muito bom. Boa sorte.
Olá, Lúcia!
Fique tranquila! Qualquer comentário é muito bem-vindo e apreciado por nós da equipe Jung na Prática!
Obrigado e felicidades!
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