A obra revela o caminho que Jung fez durante um período de quase 18 anos, quando deixou-se guiar por suas emoções e imagens do inconsciente.
O Livro Vermelho é fruto da experiência viva e criativa que Jung teve entre o período de 1913 até 1930.
A publicação do Livro Vermelho permaneceu por muitos anos reservada aos herdeiros legais de Jung. Guardada em um cofre, veio à público em 2009 mundialmente (lançado em cinco línguas simultaneamente) e, em 2010, no Brasil, pela Editora Vozes, sob esforço e pesquisa do historiador da ciência Sonu Shandasani e dos analistas Walter Boechat e Gustavo Barcellos.
“Os anos durante os quais me detive nessas imagens interiores constituíram a época mais importante da minha vida. Neles, todas as coisas essenciais se decidiram. Foi então que tudo teve início e os detalhes posteriores foram apenas complementos e elucidações. Toda a minha atividade ulterior consistiu em elaborar o que jorrava do inconsciente naqueles anos e que inicialmente me inundara: era a matéria-prima para a obra de uma vida inteira.” (C. G. Jung, 1957)
O Livro apresenta um conteúdo ímpar, pintado à mão e escrito com letras góticas, material este que causou certo frisson para a comunidade da psicologia junguiana, como também da psicologia. Essa publicação inédita aguçou o interesse e a curiosidade de psicólogos, analistas e psicoterapeutas, que começaram a entrar em contato com o material, na tentativa de aprofundar seus conhecimentos e compreender a trajetória que Jung descreveu através dessa sua experiência viva.
Paciente, terapeuta e tratamento
O Livro Vermelho ou Liber Novusretrata revela o caminho que Jung fez nesse período de quase 18 anos. Naquela época, Jung deixou-se guiar por suas emoções e imagens do inconsciente. Ao inundar-se por essa demanda interior, iniciou, como ele mesmo declarou: "o seu confronto com o inconsciente". Todos esses anos, implicaram num processo de autoexperimento, aprofundamento, tradução e elaboração dessa experiência interior transformadora. Foi através dessas fantasias que, ao "chegar ao fundo do (seu) processo interior, traduzindo as emoções em imagens e compreendendo as fantasias que estavam se agitando subterraneamente, que algo maior aconteceu" (Jung, 2010).
É nesse período que Jung desenvolve grande parte do seu arcabouço teórico e que servirá de ancoramento no desenvolvimento de toda sua obra. Percebe-se no livro o desenvolvimento do método da imaginação ativa, como também do uso de técnicas expressivas, aspectos fundamentais para a abordagem da técnica junguiana. É nessa etapa que encontramos uma situação nova e especial, onde Jung “é o paciente, é o terapeuta e é também o tratamento” (Boechat, 2014).
Segundo afirmações de Jung, o Livro Vermelho tornou-se a base de todo seu processo criativo posterior. O envolvimento com o seu conteúdo, o estudo e o contato com as imagens que surgiam da própria experiência no contato com o seu inconsciente, é um convite ao mergulho em nossas próprias histórias, possibilitando o aprofundamento, tanto em nossas experiências e vivências individuais como coletivas.